terça-feira, março 16, 2004

Sempre esperei pela minha primeira matéria com prostitutas. Seria fácil, não teria nada daquelas papagaiadas de imagens com câmera escondida, clima de investigação. Simplesmente eu, bonito, querido, meigo, leal, todo-poderoso, conversaria com as putas, explicaria que precisava captar cenas, que elas poderiam ficar de costas, que ninguém seria identificado, que não se preocupassem... E assim foi. Cheguei, ontem, na Garibaldi, expliquei o caso, as primeiras três meninas foram queridas, reuniram as outras, expliquei para todas, até que uma se irritou, começou a dizer que não confiava em mim, criou-se um clima de irracionalidade, de nada adiantaram meus sorrisos e minha sinceridade. Resumo: em um minuto, eu limpei a Garibaldi, todas as putas entraram pra dentro dos casulos e eu fiquei sem imagens. Depois, pedi, na Farrapos que uma deixasse apenas os braços e a perna para fora do puteiro, para que eu gravasse uma passagem. Ela ficou puta comigo. Gravei o boletim sem putas.

Então, o ovo ou a galinha ? As matérias de putas são feitas com câmera escondida porque elas são assim ou elas são assim porque as matérias sempre são feitas com câmeras escondidas, filmando-as sem autorização ?

Ontem, as putas não deixaram de ser queridas (putas são queridas), com exceção de uma ou outra. Simplesmente, elas são totalmente incapazes de confiar em alguém. Não adianta sorrir, ser sincero, dizer que mostra a imagem depois, elas morrem de medo de serem vistas pelos colegas de colégio do filho.

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