quinta-feira, março 01, 2012

  

Estou jogado na rede da varanda - era no tempo em que as casas tinham varanda. Domingo, com certeza, o último de fevereiro ou o primeiro de março. Só se ouve o rugido abafado do mar e as pauladas nas tábuas de madeira. São os vizinhos colocando os tampos nas janelas. O último vai na porta. Se ninguém vier na Páscoa, será uma gestação de nove meses de mofo e escuridão até a casa ver a luz do sol de novo. Sim, há a caseira que, supõe-se, abre tudo uma vez por mês, mas a frase ficou melhor sem ela...

De nada adianta pedalar até os amigos. Quem não se foi para fugir do espetáculo, está arrumando as malas. Resta-me a rede e a varanda da casa do tio Paulo no último dia do verão de Torres. Não foram um nem dois domingos assim. Alguns, para ser bem preciso. Por que eu permanecia? Por que sempre a última carona, o último ônibus? Como se algo ainda pudesse acontecer. Algo...

Não me movo. Não há saída de emergência. Fecho os olhos. Cada martelada nos tampos, uma fincada no estômago. Dói. Então me concentro. Inspiro a maresia. Curto como se fosse a derradeira tomada de ar, e alguma será.

Eu fico até o último 'vamos Sebastião', até a buzina que anuncia a morte, até o bus das onze. Eu fico porque preciso.

Amanhã tem aula. E, até lá, tudo menos o Fantástico.

 

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