Antes de encher os dois tarros, todo dia largados à beira da estrada e recolhidos pela caminhoneta da cooperativa, e ainda a panela de onde saía o leite do café-da-manhã, do café-da-tarde, do café-da-noite, a mãe me deixava ordenhar. No começo, eu forcejava tanto, mas não conseguia tirar mais do que um fino fio branco da vaca. Mais crescida, fui aprendendo. Minha mão recobrindo perfeitamente a teta menor, um pouco mais quentinha que meu corpo, os dedos em um ritmado sobe e desce, do fura-bolo ao mindinho, uma puxada seca final e então o jato espessos e estrondoso – shhhhhhhhhh! -no meu copo de vidro cheio de açúcar. E depois beber aquilo tudo, tanta espuma e um bigode branco para brincar.
A vida foi assim perfeita até aquele dia. Foi quando a mãe ficou doente pela primeira vez, eu com meus 12 anos. O pai me chamou de manhã cedo, ainda noite, e todo sério me disse filha mamãe hoje tá doente tu já tá grandinha vai tirar o leite hoje teu irmão te ajudar com o tarro e com o terneiro. E lá fui eu pro estábulo um pouco orgulhosa, um pouco nervosa. O Ivo já tinha embretado a vaca, atado o terneiro, era só fazer o que eu já fazia, só que desta vez um pouco mais. Bem mais. Lembro direitinho, me acomodei junto ao úbere com a solenidade de quem enfrenta pela primeira vez a responsabilidade. Tudo como sempre só que agora não um copo, mas um tarro e uma panela. Tudo diferente, então.
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